A médica de 29 anos, atendente na UPA das Moreninhas, em Campo Grande, foi pauta de mais um ato de violência contra profissionais da saúde. No último sábado (14/06), ela foi agredida com um soco no rosto por uma paciente insatisfeita após ser informada de que exames de rotina não são realizados na unidade
Dinâmica da agressão
A profissional explicou que exames laboratoriais deveriam ser feitos nas UBSFs, o que provocou a revolta da paciente: “Ela me chamou de psicopata… disse que pagava meu salário e me obrigava a fazer o que queria” .
Ainda segundo ela, a paciente continuou usando palavras de baixo calão, mesmo após a tentativa da própria mãe de acalmá-la. “A mãe dela pediu para que eu deixasse os exames de lado e apenas receitasse a medicação para a queixa atual”.
A médica então se retirou da sala e comunicou o ocorrido à assistente social da unidade e ao regulador de fluxo, solicitando que outro profissional assumisse o atendimento. No retorno à sala para informar que a paciente seria chamada novamente, ela foi surpreendida pela agressão, segurada pela própria mãe que, segundo a médica, tentou conter a ação .
A vítima acionou guardas da unidade, interrompeu o plantão noturno e registrou Boletim de Ocorrência. O SinMed-MS, sindicato dos médicos de Mato Grosso do Sul, já notificou o caso à Secretaria Municipal de Saúde, reforçando a necessidade de medidas eficazes contra o aumento de episódios violentos. O presidente Marcelo Santana alertou: “Não podemos esperar que aconteça algo ainda pior”
Contexto de agressões em UPAs de MS
Casos similares têm ocorrido na UPA das Moreninhas:
Janeiro de 2022: um médico de 58 anos foi agredido pelo próprio gerente da unidade durante discussão sobre triagem. Ele registrou lesões no rosto e ameaças de corte de ponto. A Sesau, então, instaurou processo administrativo.
Fevereiro de 2023: um pai de paciente alvejou socos em um médico por causa de atraso no atendimento. O agressor quebrou móveis e o profissional relatou histórico de violência anterior por parte dele.
Aumento das ocorrências e apelo por proteção
Dados do CFM (Conselho Federal de Medicina) registram mais de 40 mil BOs registrados nacionalmente contra médicos na última década, com 134 somente em Mato Grosso do Sul em 2024, posicionando o Estado em 10º lugar no ranking nacional .
O sindicato enfatiza que muitas agressões nem chegam a ser registradas, e recomenda aos profissionais que formalizem ocorrência e notificações ao sindicato “para que possamos agir e exigir medidas concretas de proteção” .
Próximos passos e expectativas
O presidente do sindicato, Marcelo Santana Silveira, lamentou o ocorrido e afirmou que a situação revela o risco constante enfrentado pelos profissionais da saúde. “A agressão é um crime grave. A médica ficou abalada e com medo. Isso mostra que a prefeitura não está garantindo a segurança dos profissionais, o que nos preocupa muito. Não podemos esperar que aconteça algo ainda pior.”.
O SinMed-MS exige:
Reforço na segurança das UPAs, com vigilância 24h e mecanismos de contenção.
Adoção de protocolos de triagem que minimizem conflitos.
Instalação de câmeras, botão de pânico e agentes treinados nas unidades.
A Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) ainda não se manifestou sobre as providências tomadas após o último episódio.
A recorrência de agressões em UPAs evidencia um problema grave de segurança para profissionais da saúde em Campo Grande.