Política e Transparência

Demissões na Fazenda expõem rombo fiscal, inflação e crise no governo

Chefe da equipe econômica afirmou que ficou “chateado” com a saída do auxiliar que deve voltar para a iniciativa privada após três anos na Fazanda






A crise na área econômica do governo Lula (PT) ganhou um novo capítulo nesta quarta-feira (26) com o anúncio da saída de Marcos Pinto, secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda e um dos nomes mais influentes da equipe comandada por Fernando Haddad.

A debandada — que já tinha começado com Bernard Appy — ocorre em meio ao pior momento fiscal do governo, com inflação pressionando o bolso do brasileiro, déficit público crescente e a popularidade do presidente em queda acelerada às vésperas da eleição de 2026.

A demissão informal foi confirmada pelo próprio Marcos Pinto em coletiva técnica após a cerimônia em que Lula sancionou a medida que isenta do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil, proposta criticada por especialistas e parlamentares por seu caráter eleitoreiro e potencial para ampliar o rombo nas contas públicas.

“Está chegando a hora de eu voltar para a iniciativa privada, voltar a cuidar da minha família... Deve acontecer em breve”, afirmou o secretário, sem esconder o desgaste interno. Minutos antes, Haddad já havia antecipado a saída e lamentado publicamente: “Tô meio chateado com o Marcos Pinto”.

Governo perde seus pilares técnicos

Responsável por toda a agenda microeconômica — revisão de benefícios fiscais, modificação de marcos regulatórios, propostas sobre renda de capital, crédito e mercado financeiro — Marcos Pinto era considerado um dos últimos pilares do setor técnico da pasta. Sua saída escancara uma desorganização interna justamente quando o governo tenta controlar o déficit e conter a desconfiança do mercado.

O movimento reforça a percepção de que o núcleo econômico enfrenta fissuras profundas. A saída de Appy, seguida agora por Pinto, indica que a equipe que deveria garantir confiança e estabilidade está se desfazendo em um momento crítico.

Rombo fiscal, inflação e medidas populistas

O anúncio ocorre enquanto o governo tenta lidar com um rombo crescente nas contas públicas. O déficit do setor público aumentou, a dívida segue em alta e a inflação voltou a pressionar alimentos, energia e combustíveis. O brasileiro sente o bolso apertar enquanto o governo aposta em medidas de forte apelo eleitoral — como a nova isenção do IR — que ampliam o impacto fiscal e aumentam a percepção de irresponsabilidade orçamentária.

Economistas alertam que decisões populistas, tomadas em pleno aquecimento do ambiente eleitoral, enfraquecem a credibilidade do governo e dificultam o atingimento das metas do novo arcabouço fiscal.

Popularidade de Lula derrete em meio à lambança econômica

Com preços altos, descontrole fiscal e demissões em série dentro da economia, a popularidade do presidente Lula enfrenta um dos menores níveis desde o início do mandato. A saída de auxiliares técnicos aumenta a sensação de improviso e desgaste político às vésperas da campanha presidencial de 2026 — um cenário que obriga o governo a operar na defensiva.

Ao se despedir, Marcos Pinto disse ter “sensação de dever cumprido” e destacou projetos como Pé-de-Meia, Desenrola e o imposto mínimo sobre altas rendas. Mas o contexto de sua saída revela o contrário: a economia se tornou o ponto mais vulnerável do governo, com impactos diretos no bolso da população e na disputa eleitoral já em curso.

A saída iminente do secretário de Reformas Econômicas ocorre em um momento de reorganização interna da equipe econômica. Além de Pinto, deixou o governo recentemente o economista Bernard Appy, que comandava a Secretaria Especial de Reforma Tributária e foi o principal formulador da reforma ampla do sistema de consumo aprovada em 2023.

Sua secretaria foi extinta no início do mês, e o governo ainda não anunciou como redistribuirá as funções técnicas.

Appy, responsável por estruturar a transição para o novo modelo de impostos sobre consumo, era uma das referências do governo na agenda tributária.

A saída de Marcos Pinto coloca pressão adicional sobre a condução de programas já enviados ao Congresso, como a atualização de marcos regulatórios do mercado financeiro, a lei de infraestrutura financeira, a modernização de PPPs e concessões e o novo crédito imobiliário.

Até o momento, não há indicação de que a saída tenha sido motivada por divergências internas. (Com CNN - Brasília)