Política e Transparência

Governo reduz salário mínimo de 2026 em meio à crise e desgaste político

Corte revela enfraquecimento da área econômica após atritos internos e confrontos do governo Lula no Congresso






O governo Lula (PT) voltouatrás e decidiu reduzir a projeção do salário mínimo de 2026, um movimento que expõe a fragilidade da área econômica em meio à piora do ambiente político e à crise fiscal que o Planalto tenta minimizar.

O valor estimado caiu de R$ 1.631 para R$ 1.627, conforme documentos enviados pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, ao Congresso, num movimento que já acende um alerta sobre o impacto direto na vida de milhões de trabalhadores.

A tesoura, aparentemente tímida — apenas R$ 4 a menos —, simboliza algo maior: o governo já não controla mais o próprio discurso econômico, pressionado por inflação oscilante, falta de coordenação interna e um Congresso cada vez mais resistente às articulações de Lula.

A revisão ocorre porque a inflação, componente central do reajuste do piso, avançou menos que o previsto ao longo de 2025. Em um cenário normal, seria boa notícia. Mas em Brasília, o resultado tem outro significado:
com a economia sem tração, a equipe econômica perde força, e cada décimo de inflação vira argumento para cortar na carne.

A queda na projeção do mínimo surge justamente no momento em que o governo enfrenta choques internos, disputas entre alas políticas e técnicas e um Congresso em confronto aberto com o Planalto, que tem imposto derrotas sucessivas à articulação governista. O desgaste afeta diretamente a credibilidade fiscal e pressiona o governo a mostrar números “mais realistas” — ainda que menores.

A conta não fecha

Caso a nova previsão se confirme, o salário mínimo subiria cerca de 7,2% em relação ao valor atual, de R$ 1.518.

Mas o número definitivo só será fechado após a divulgação do INPC, indicador que orienta a correção do piso nacional.

A regra atual combina inflação acumulada até novembro e crescimento do PIB. Porém, o próprio arcabouço fiscal — criado pelo governo — limita o aumento real a 2,5% acima da inflação, o que impede qualquer valorização mais robusta.

Na prática, o governo Lula se vê amarrado pelas próprias regras, pressionado pelos parlamentares e encurralado pela necessidade de apresentar contas equilibradas enquanto tenta manter apoio político.

Apesar das turbulências, a equipe econômica afirma que o valor final deve ficar muito próximo dos R$ 1.627 agora previstos.
A fala, porém, soa mais como um gesto de contenção de danos em um governo marcado, cada vez mais, por recuos, revisões, escândalos de corrupção, como o roubo de R$ 6,3 bilhões das contas de aposentados e pensionistas do INSS, e tensões que respingam diretamente na vida dos trabalhadores pobres.