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Venezuelanos vivem com incerteza e ceticismo em meio a tensões com EUA

Crise com Washington escalou após chegada do USS Gerald Ford, maior porta-aviões da marinha americana, ao Caribe






Em meio a tensões entre Donald Trump e Nicolás Maduro, a população da Venezuela está dividida sobre a aproximação de embarcações militares americanas no Caribe.

Os noticiários locais acompanham o tema de perto, embora sob o olhar oficial e com as versões de Caracas dominando a tela, enquanto as declarações de Washington são pouco mencionadas.

O governo do presidente Nicolás Maduro segue de perto o que se diz nos meios nacionais, cuidando de cada palavra. E chamando a atenção quando eles saem da linha.

Fora dessa linha editorial, as redes sociais explodem. Lá abundam os chamados "influencers" que, desde meados de agosto, asseguram que se aproxima uma mudança política de forma iminente.

Dizem isso sem provas claras, entre rumores e gerando muitas expectativas em alguns setores.

Tudo acontece enquanto navios de guerra americanos patrulham o Caribe, em uma operação que, segundo Washington, busca deter o narcotráfico.

 Maduro, por sua vez, afirma que por trás desse desdobramento há outro propósito: uma tentativa de derrubar seu governo.

A presença do porta-aviões USS Gerald R. Ford se soma agora a essa frota na área de operações do Comando Sul dos Estados Unidos, que abrange grande parte da América Latina, segundo confirmou a Marinha dos Estados Unidos nesta semana.

Nas ruas de Caracas, o tema está nas conversas, refletido entre medos, ceticismo e opiniões diversas.

Em El Rosal, uma área de escritórios, Frank Molina, um preparador físico, caminhava sob o sol. Ele afirma que já tem claro o que faria se a situação com os Estados Unidos chegasse ao ponto de confronto.

 "Nós somos venezuelanos e morreremos com as botas calçadas", afirma com convicção, convencido de que, aconteça o que acontecer, defenderá seu país "até a morte".

Alguns metros adiante, uma mulher idosa, que pede para manter seu nome em sigilo por medo de represálias, tem uma opinião muito diferente.

Ela acredita que "é necessária a ajuda dos Estados Unidos" para que a Venezuela possa sair da situação atual.

A idosa teme que sua opinião possa gerar consequências, como a prisão.
Nos últimos meses, organizações não-governamentais como a Provea têm denunciado que pessoas foram presas por expressarem ideias críticas ao governo em suas redes sociais.

O governo Maduro nega que a liberdade de expressão seja restrita na Venezuela.

Pela mesma área passa apressada Katiuska Jaspe, administradora. Em sua opinião, "as pessoas estão esperando", e diz que muitos estão felizes que o porta-aviões está chegando.

 No entanto, José Román, comerciante, observa a cena com outro humor. Considera que, embora haja uma ameaça iminente, as pessoas agem como se nada tivesse acontecido. "A Venezuela não é um país de guerra", diz e acrescenta que tudo continua igual "como se nada estivesse acontecendo".

Ana Melero, corretora de seguros, reconhece que a situação produz "muita ansiedade", mas não fez compras preventivas. "Não tenho dinheiro", diz.

Valentín Márquez, aposentado, rejeita a ideia de uma invasão estrangeira, mas ao mesmo tempo acredita que é um cenário que em sua opinião é improvável.

A poucos passos, o pintor Enrique Díaz qualifica o momento atual como "bastante desagradável". Ele diz que está preocupado com o que pode vir, mas também acha que pode ser um choque para reorganizar as coisas. "Isso pode ser tanto um benefício como um mal-estar para o país", reflete.

 Noemí Lozada, dona de casa, não hesita em expressar seu desacordo. Ela considera que uma intervenção dos Estados Unidos seria "um abuso". "Eles não deveriam enfiar a mão assim", ele diz.

Margarita Fernández, contadora, observa o panorama com cautela. Ela diz que o ambiente está "cheio de incerteza", mas sente que as pessoas estão preparadas "para qualquer coisa". "Aqui tudo pode acontecer", diz ela deixando transparecer alguma esperança.

 

CNN Brasil