A morte de Letícia Ferreira Araújo, de 25 anos, voltou a chocar Cassilândia e todo Mato Grosso do Sul após uma reviravolta que revolta familiares e expõe fragilidades do sistema de Justiça, informa reportagem do G1MS.
O caso, registrado em agosto como feminicídio, agora foi rebaixado pela Polícia Civil para homicídio culposo na direção de veículo automotor.
A troca de classificação derruba a gravidade do crime, reduz a pena máxima de 40 anos para apenas 3 anos de detenção, e ainda pode permitir que o principal suspeito, o marido Vitor Ananias de Jesus, responda em liberdade.
A atualização no sistema oficial da Sejusp fez até o número de feminicídios no Estado cair de 36 para 35, como se a vida de Letícia pudesse ser retirada de uma estatística simplesmente mudando um rótulo.
A Secretaria confirmou que, segundo a nova conclusão policial, não houve intenção de matar. Uma mudança abrupta que contrasta com tudo o que se sabia nos primeiros dias após a tragédia.
Discussão
Na madrugada de 9 de agosto, testemunhas relataram que Letícia e o marido haviam discutido minutos antes do atropelamento. Quando os policiais chegaram, encontraram a jovem já sem vida, caída ao lado do carro que havia se chocado contra o muro de uma residência.
O cenário não era de simples acidente: nenhuma marca de frenagem, danos compatíveis com forte impacto e relatos de que o veículo atingiu Letícia de forma direta e violenta. Vitor foi encontrado em casa e acabou preso em flagrante, enquanto moradores ainda tentavam entender o que havia acontecido.
Agora, meses depois, a interpretação muda e transforma um crime inicialmente investigado como feminicídio em algo tratado como resultado de um ato imprudente ao volante. Uma reviravolta que altera não só o rumo do processo, mas também o peso da morte de Letícia diante da opinião pública.
O delegado responsável pelo caso, Rodrigo de Freitas, não atendeu as tentativas de contato até o fechamento da matéria, enquanto a atualização oficial no sistema Sigo já consolida a nova classificação.
A família de Letícia, que desde o início convive com a dor da perda, agora encara também a sensação de que a morte da jovem foi empurrada para a zona da leveza penal, onde penas pequenas e regimes brandos costumam prevalecer.
Em Cassilândia, a mudança caiu como um balde de água fria sobre uma comunidade que acompanhou o caso de perto e viu, no dia do crime, um cenário que parecia tudo, menos um acidente inevitável.





