Política e Transparência

Centrão pede mais tempo e anistia segue travada na Câmara

Proposta teve regime de urgência aprovado há mais de um mês, mas votação no plenário não tem data prevista






Sem avanço na Câmara dos Deputados há mais de um mês, a análise do projeto da anistia no plenário segue sem previsão. O texto foi deixado de lado na última semana após líderes de centro pedirem 15 dias de prazo para o debate da proposta. 

O pedido por mais prazo foi anunciado pelo líder do PL na Casa, Sóstenes Cavalcante (RJ). Mesmo com o apelo do centrão, ele espera intensificar negociações e voltar a discutir a pauta na próxima reunião de líderes. Para a semana que vem, a Casa terá um esforço concentrado de votações e a anistia não foi incluída entre as prioridades.

“Não estava na relação de possibilidade de inserção da pauta o PL da Anistia por conta dos líderes do centro terem pedido que nós possamos ter 15 dias [de prazo], mas já estou dialogando com os líderes de partidos de centro”, afirmou Sóstenes em entrevista coletiva na Câmara.

Na visão do líder do PL, a publicação do acórdão do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) contribui para correr com o avanço do projeto. “Entendo que isso também nos faz apressar”, disse.

O pedido do centrão por mais tempo foi feito na última segunda-feira (20). A motivação, segundo o líder do PL, foi a pauta "polêmica" recente, que incluiu uma decisão do plenário para sustar uma ação penal em benefício do deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO), alvo de investigação por crimes de calúnia, injúria e difamação.

"Eles pediram duas semanas com um pouco mais de tranquilidade, mas a gente não tinha a decisão célere do ministro Alexandre Moraes com relação ao acórdão [do julgamento]. Por isso nós mudamos e estamos conversando com os líderes de centro para acelerar", disse.

Mesmo com a possibilidade de recurso no STF, a publicação do acórdão que condenou Bolsonaro deve impactar nas articulações na Câmara. A intenção de Sóstenes é que o projeto da anistia retorne à pauta na primeira semana de novembro.

A intenção é aprovar o texto antes de uma eventual decretação da prisão em regime fechado de Bolsonaro. O ex-presidente foi condenado a 27 anos e três meses de prisão por participação em uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

A oposição defende que o projeto da anistia para condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023 também beneficie Bolsonaro.

O relator da proposta, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), no entanto, já anunciou que seu texto terá como foco apenas a redução de penas e não uma anistia “ampla, geral e irrestrita”, que é defendida por bolsonaristas. 

Paulinho tem chamado a matéria de “PL da Dosimetria”, em uma tentativa de desvincular a ideia de anistia e reunir maior apoio entre parlamentares. Ele ainda não apresentou seu parecer, mas já teve uma série de reuniões com bancadas para tentar garantir maioria na Câmara. A proposta, no entanto, enfrenta resistência e ainda não tem consenso.

Outro fator que tem travado o avanço da proposta envolve a espera de sinalizações do Senado. O entendimento de integrantes do centrão é que não valerá a pena o desgaste político de aprovar o projeto se não houver compromisso da Casa Alta também aprovar o texto. 

A preocupação ganhou força após senadores arquivarem a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Blindagem. A proposta foi aprovada na Câmara, mas foi alvo de intensas críticas da sociedade civil. A rejeição da PEC no Senado acrescentou desconfiança na relação entre as duas Casas.

O regime de urgência do projeto da anistia foi aprovado em 17 de setembro, após meses de impasse e intensa pressão de integrantes da oposição. A urgência permite acelerar a análise do texto com a votação diretamente no plenário, sem passar por comissões. (Com CNN - Brasília)