O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que pretende anunciar, entre hoje e amanhã, o envio de novas cartas a países sobre o aumento de tarifas. O Brasil foi citado diretamente pelo republicano e, dessa vez, estará entre os notificados.
“O Brasil, por exemplo, não tem sido bom conosco, nada bom”, disse Trump a repórteres durante um evento com líderes da África Ocidental na Casa Branca. “Vamos divulgar um número referente ao Brasil ainda esta tarde ou amanhã de manhã."
O republicano começou a enviar nesta quarta-feira sua segunda leva de cartas para notificar parceiros comerciais. Ele definiu tarifas mínimas sobre produtos importados, que variam entre 25% e 40%, a depender do país, com validade a partir de 1º de agosto.
Nesta segunda etapa, pelo menos sete países foram notificados até agora: Argélia, Brunei, Filipinas, Iraque, Líbia, Moldávia e Sri Lanka.
Só na segunda-feira, o republicano enviou os documentos a 14 nações. No mesmo dia, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que haveria "cartas adicionais nos próximos dias".
Ao falar sobre a alteração das tarifas para produtos importados do Brasil, Trump afirmou que as novas taxas anunciadas se baseiam em “fatos muito, muito substanciais” e em um "histórico anterior".
Apesar do argumento de Trump de que a aplicação de tarifas busca corrigir a balança comercial norte-americana, dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que o Brasil tem registrado déficits comerciais seguidos com os EUA desde 2009 — ou seja, há 16 anos.
Ao longo desse período, as vendas americanas ao Brasil superaram suas importações em US$ 88,61 bilhões (equivalente a R$ 484 bilhões na cotação atual). Leia mais aqui.
Por isso, analistas apontam que a postura de Trump com as tarifas tem um forte componente geopolítico, com o objetivo de ampliar seu poder de barganha nas relações internacionais.
Veja abaixo a lista de países que já receberam os documentos e as taxas anunciadas por Trump até o momento:
África do Sul: 30%
Argélia: 30%
Bangladesh: 35%
Bósnia e Herzegovina: 30%
Brunei: 25%
Cambodja: 36%
Cazaquistão: 25%
Coreia do Sul: 25%
Filipinas: 20%
Indonésia: 32%
Iraque: 30%
Japão: 25%
Laos: 40%
Líbia: 30%
Malásia: 25%
Myanmar: 40%
Moldávia: 25%
Sérvia: 35%
Sri Lanka: 30%
Tailândia: 36%
Tunísia: 25%
Ameaça a países do Brics e resposta de Lula
O presidente dos EUA afirmou nesta terça-feira (8) que os países do Brics vão receber uma tarifa de 10% "muito em breve".
Segundo o republicano, o Brics estaria tentando prejudicar os EUA e substituir o dólar como moeda padrão global.
"Se eles quiserem jogar esse jogo, tudo bem, mas eu também sei jogar”, afirmou Trump a jornalistas durante entrevista coletiva na Casa Branca. “Qualquer país que fizer parte do Brics terá uma tarifa de 10%, apenas por esse motivo”, disse, acrescentando que isso deve ocorrer “muito em breve”.
O Brics é um grupo de países emergentes que inclui Brasil, Rússia, China, Índia, África do Sul, Emirados Árabes Unidos, Egito, Arábia Saudita, Etiópia, Indonésia e Irã.
"O que eles estão tentando fazer é destruir o dólar para que outro país assuma a posição e torne sua moeda o novo padrão. Perder o padrão mundial do dólar seria como perder uma grande guerra mundial. Não seríamos mais o mesmo país. E não vamos deixar isso acontecer”, completou Trump.
Em resposta, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou que os países do Brics são soberanos.
"Não aceitamos intromissão de quem quer que seja", disse Lula. "Nós defendemos o multilateralismo".
A nova ofensiva de Trump vem apenas um dia após o republicano ameaçar aplicar uma taxa adicional de 10% a qualquer país que se alinhasse "às políticas antiamericanas" do Brics, em uma publicação em seu perfil no Truth Social.
Trump não explicou o que entende por “políticas antiamericanas”. Autoridades do governo dos EUA afirmam que não há decreto em elaboração no momento, e que tudo dependerá dos próximos movimentos do bloco.
Pressão pela conclusão de acordos comerciais
A elevação das tarifas sobre os produtos desses países reacende um alerta sobre a guerra comercial de Trump. O republicano vem tentando firmar acordos com seus parceiros comerciais — mas, até agora, chegou a um entendimento prévio com apenas três países.
A entrega das cartas é mais uma tentativa de pressionar as nações pela conclusão de acordos favoráveis aos EUA. Além do envio aos chefes de Estado, os documentos foram publicados pelo republicano em seu perfil na rede Truth Social.
Na segunda-feira, o presidente dos EUA também assinou um decreto que adiou oficialmente para 1º de agosto a data de retomada de seu tarifaço. A previsão era que as chamadas "tarifas recíprocas", que atingiram mais de 180 países, voltassem a valer nesta quarta-feira (9).
"As tarifas começarão a ser pagas em 1º de agosto de 2025", publicou Trump na terça-feira, ao reforçar que não haverá nova alteração. "Em outras palavras, todo o dinheiro será devido e pagável a partir de 1º de agosto de 2025 – nenhuma prorrogação será concedida", acrescentou.
Trump já havia antecipado no domingo (6) que os EUA enviariam cartas a seus parceiros comerciais, especificando os valores de taxas que esses países teriam de pagar caso não negociassem acordos com a maior economia do mundo. (Com g1)