Política e Transparência

Cúpula esvaziada do Brics coloca Brasil em situação delicada

Após entrada de novos sócios em 2023, primeira reunião que deveria reafirmar ampliação do bloco tem ausências importantes, incluindo da China






A reunião do Brics que acontece neste domingo e na segunda-feira no Rio de Janeiro carrega uma expectativa frustrada. Planejada para marcar o novo momento do bloco, agora ampliado, a cúpula sofre com ausências de peso e falta de consenso, deixando o Brasil em uma posição delicada, informa o jornal O Globo.

A diplomacia brasileira vê risco de perda de protagonismo e dificuldade para alinhar objetivos dentro de um grupo cada vez mais heterogêneo.

Entre as ausências mais sentidas está a do presidente da China, Xi Jinping, confirmada a poucos dias do evento, depois de semanas de indefinição.

A justificativa de Pequim soou burocrática demais para quem vinha destacando a importância do Brics e da parceria com o Brasil, gerando mal-estar no Itamaraty. Também não participam os presidentes do Irã e do Egito, novos integrantes do bloco, além da Turquia, convidada especial, o que reduziu ainda mais o peso político da reunião.

O Brics chega ao encontro no Rio transformado. Em 2023, o bloco aprovou a ampliação para incluir novas economias, num movimento impulsionado pela China que dobraria o número de membros e aproximaria o grupo de uma plataforma política e econômica do Sul Global — a ideia do chamado “Brics Plus”. A proposta visava reforçar a relevância internacional do bloco, num momento em que a geopolítica recupera espaço sobre a economia.

Porém, a ampliação também trouxe maior complexidade para negociações. Tornou-se mais difícil chegar a consensos, e o Brasil, que já tinha influência limitada, viu sua capacidade de conduzir debates dentro do grupo ficar ainda menor.

Fontes do governo relatam que há divergências internas sobre o rumo que o Brics deve tomar. Enquanto áreas como o Itamaraty e o Ministério da Fazenda defendem maior integração, a Presidência mantém postura mais cautelosa, o que foi descrito por um diplomata como um “freio de mão puxado”.

A avaliação não é nova. Um estudo realizado em 2022 pelo Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), com a participação de 30 especialistas, já apontava que a falta de clareza na estratégia e nos objetivos do Brics impedia o grupo de cumprir a promessa de transformação feita em sua origem. Ainda assim, o levantamento via espaço para que o bloco ganhasse relevância global à medida que as disputas geopolíticas voltassem a ganhar força.

Para piorar o clima, a guerra no Oriente Médio impôs restrições de última hora e reduziu a lista de participantes, esvaziando a cúpula. Mesmo dentro do Brasil, o evento já tinha sinais de desmobilização, com parte do governo dando menor prioridade ao encontro.

Apesar do cenário de incertezas, a expectativa é de que a posse do Brasil na presidência rotativa do bloco seja confirmada no evento, embora as negociações para agendas comuns continuem fragmentadas.

A posse do novo comando do Brics deve ocorrer ainda este ano, mas sem garantias de que haverá avanços concretos na articulação política entre os países-membros.