Na ocasião, foram entregues as notas técnicas elaboradas pelas três Câmaras Técnicas instituídas na primeira edição do evento, realizada em março do ano passado, em Campo Grande, e foram anunciadas as duas temáticas que concentrarão os debates dos membros do Fórum a partir de então.
“Um ciclo se encerra aqui em Bonito e novos desafios são lançados, não só para quem estava participando das Câmaras Técnicas, como para todos nós que não estávamos acostumados a espaços de debates tão complexos e representativos. Esse Fórum está aberto para novas demandas, porém duas temáticas já estão definidas e quero anunciar agora e vai mobilizar todos os participantes e também o Governo do Estado. Trata-se de discutir a Política Estadual de Pesca, junto com o Conselho Estadual de Pesca, abordando todos os desafios que essa temática concentra, e ainda a relação entre humanos e animais silvestres, especificamente sobre a problemática do crescimento desordenado das populações de javali e do javaporco, que era visto como um problema de natureza econômica, pois destruía lavouras, e agora se tornou um problema ambiental com a degradação de nascentes por esses animais”, afirmou o secretário adjunto da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Artur Falcette.
O III Fórum Estadual de Mudanças Climáticas acontece nessa terça-feira (10), no Centro de Convenções de Bonito. Na abertura do evento, pela manhã, estiveram presentes, além de Falcette, o secretário da Semadesc, Jaime Verruck; o prefeito de Bonito, Josmail Rodrigues; o presidente da Câmara Municipal e também presidente do Comdema (Conselho Municipal de Meio Ambiente), vereador Paulo Henrique Breda Santos; o secretário municipal de Meio Ambiente, Thiago Sabino; e os empresários Lucas Alves e Eduardo Coelho, representantes do Comtur (Conselho Municipal de Turismo) e do IASB (Instituto Águas da Serra de Bodoquena).
Amanhã (quarta-feira), acontece no mesmo local o II Encontro de Secretarias Municipais de Meio Ambiente, reunindo representantes de diversos municípios do Estado para debater medidas e desafios das cidades ante as mudanças climáticas e visando cumprir a agenda sustentável do Estado. Simultaneamente, a área externa do Centro de Convenções sedia a XIII Feira Socioambiental de Bonito, um espaço de exposição dos projetos realizados por órgãos públicos e entidades da sociedade civil na conservação ambiental, com atividades interativas que agradaram em especial o público infantil.
Instrumento de governança
Falcette destacou a principal característica do Fórum, que é ser um instrumento de governança, um espaço para a sociedade dialogar em torno dos desafios surgidos com as mudanças climáticas e propor soluções conjuntas que abarquem desde o poder público, as empresas, as instituições e todas as pessoas. “Seria mais fácil para nós produzirmos um projeto dentro dos gabinetes, mas escolhemos o caminho mais longo. Esse Fórum cria a capacidade de produzir algo mais realista. O Fórum é a resposta do Estado, dizendo que vai cumprir com seu dever, mas precisa da sociedade mobilizada e engajada para discutir e propor soluções”, salientou o secretário adjunto.
O prefeito de Bonito, Josmail Rodrigues, assegurou que a pauta mais importante do município é a ambiental. “É o que a sociedade mais discute”, completou. Sendo assim, o prefeito lembrou que está sendo elaborado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e em parceria com Governo do Estado, o novo Plano Diretor Urbano que vai trazer “medidas drásticas”, porém necessárias, para restaurar e conservar os rios e nascentes, atrações que fazem de Bonito o principal destino do ecoturismo mundial.
Futuros possíveis
Ainda na parte da manhã, o diretor de Desenvolvimento da FBDS (Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável), Rafael Loyola, apresentou sua palestra abordando os Futuros Possíveis e a visão para o clima, a biodiversidade e a sociedade. Segundo ele, o modelo atual de desenvolvimento econômico se baseia em extrair todo proveito possível dos recursos naturais disponíveis. A consequência disso foi o aumento da temperatura do planeta e todos os transtornos causados pelas mudanças climáticas. “Em 2023, 50 mil pessoas morreram em consequência do calor excessivo na Europa”, pontuou.
O futuro possível precisa contemplar três ângulos de vista, conforme Loyola: a proteção da natureza por si só, para preservar a biodiversidade; a proteção da natureza para usufruto da sociedade no uso dos recursos naturais disponíveis, com racionalidade e sustentabilidade; e a proteção da natureza como um benefício que se estende a todo planeta. “Toda política de desenvolvimento tem que ser também uma política ambiental. Precisamos ver a natureza como uma infraestrutura complexa, construir níveis de governança para entregar soluções, como vocês fazem hoje”, concluiu.
Números de Mato Grosso do Sul
O secretário Jaime Verruck encerrou a programação da parte da manhã apresentando dados da economia sul-mato-grossense que está alicerçada em diretrizes sustentáveis, mas busca ainda a segurança alimentar, a inclusão social e a transição energética. “Mato Grosso do Sul é o primeiro Estado que fez carne carbono neutro, um trabalho científico imenso da Embrapa no sentido de neutralizar as emissões de gás metano pelo gado. Tivemos redução de 50% das emissões de carbono no último inventário nacional”, mostrou o secretário, detalhando outros indicativos econômicos e sociais que colocam o Estado no topo do ranking nacional de desenvolvimento sustentável.
A redução de 5,1 milhões de hectares degradadas, antes ocupadas pela pecuária extensiva, e que agora se transformaram em lavouras de cultivo de grãos, florestas plantadas, cana-de-açúcar e até mesmo em reservas de preservação ambiental, ajudaram o Estado a reduzir as emissões de carbono, na avaliação do secretário. Há 10 anos a pecuária extensiva ocupava 21,8 milhões de hectares. Sem impacto no volume de produção de carne, a área ocupada pela pecuária encolheu para 16,6 milhões de hectares. “Ainda restam 4 milhões de hectares degradadas, sobretudo nas regiões Sul e Norte, que serão as próximas regiões a sofrerem importantes transformações”, previu Verruck.
O secretário listou, ainda, os principais programas de apoio à produção sustentável coordenados por sua pasta, como o Precoce MS, o Leitão Vida, Peixe Vida, PDAgro, Frango Vida e Extra Leite, todos com diretrizes ambientais rigorosas e cada vez mais abrangentes. “O Precoce já tem 60% dos critérios de base sustentável”, disse. Ainda programas de intervenção direta em apoio e proteção do meio ambiente, como os Programas de Pagamento por Serviços Ambientais Rios Cênicos e Pantanal, foram lembrados pelo secretário como exemplos de investimento do Governo do Estado na agenda verde.