Um dos bailarinos, Marcelo Galvão Guimarães, fundador do Coletivo Casa 4 em 2017, explicou que o grupo é um coletivo independente formado por cinco artistas e que seus espetáculos sempre abordam as vivências do grupo. “Nossas produções são sempre sobre nossas frustrações, nossos desejos enquanto corpos gays. Todos nós temos em comum a dança de salão, além de outras técnicas, e nos juntamos para trazer à tona nossas ideias e propostas. Entramos em um laboratório de pesquisa e criação, e sempre tem alguém com um olhar externo ajudando na criação, que, nesse caso, foi o Leandro de Oliveira”.
O espetáculo “Me Brega, Baile!” é um baile pensado com muito carinho ao longo de dois anos pelos bailarinos do grupo, como forma de encontrar o baile ideal para eles. “Buscamos o baile ideal para a diversidade dos corpos gays, porque a dança de salão é muito heteronormativa, pensada para homem e mulher e para corpos muito padronizados. Então começamos a pensar no que seria interessante para nós, enquanto corpos gays, que baile seria esse ideal. Aí criamos esse espetáculo-baile, em que o público é, ora espectador, ora parte da cena”.
Marcelo destaca que o grupo cumpre uma missão, uma função política nesse território gay. “Ao mesmo tempo, é muito gostoso, porque nosso espetáculo é leve. A gente aborda temas importantes e sérios, mas de forma muito agradável, e acabamos transmitindo a mensagem de maneira delicada. As pessoas se emocionam, algumas choram, outras até deixam o espetáculo. Sempre é um misto de emoções, dependendo da região do Brasil e do público com quem estamos nos apresentando”.
Leandro de Oliveira, diretor artístico do coletivo, falou sobre a importância de apresentar “Me Brega, Baile!” em Campo Grande durante a Semana pra Dança. “Nós temos dois espetáculos no repertório, e Me Brega, Baile! é o segundo. Para nós, ser convidados para a Semana pra Dança foi uma surpresa e uma honra. É ótimo participar de qualquer programação de dança, ainda mais de um festival grande e com esse foco específico. Estamos felizes em poder apresentar nosso espetáculo, desenvolvido com tanto carinho, que não é apenas uma fruição de dança, mas também uma experiência para o público.”
O espetáculo foi concebido a partir das turnês com o primeiro espetáculo de dança de salão do grupo Casa 4. “Foi nessas viagens que elaboramos esse novo espetáculo. No primeiro, falávamos muito das nossas dores, do ambiente da dança de salão sendo homens gays, das microviolências que sofremos, entre outras coisas. E, durante o processo de dançar e viajar, pensamos em um baile que seria o baile dos nossos sonhos, onde pudéssemos ser quem realmente somos, sem julgamentos, e foi assim que construímos esse espetáculo”, afirma Leandro.
O diretor artístico do Casa 4 explica que o coletivo surgiu justamente a partir da reflexão sobre as violências sofridas pelos bailarinos no ambiente da dança de salão. “Esse ambiente é conservador, muito tradicional, e estar com nossos corpos nesses lugares nos leva a enfrentar experiências nem sempre agradáveis. Nossa existência enquanto coletivo vem dessa reflexão, do que é ser um corpo gay, um corpo LGBTQIAPN+, nesse contexto e como lidamos com essas circunstâncias”.
Prestigiando o espetáculo, a cantora Ariadne Farinéa elogiou a interatividade. “Tudo que é interativo, principalmente quando ligado ao corpo, nos faz revisitar lugares. Quando a dança traz essa interação com o público, fica mais maravilhoso ainda. Achei o grupo incrível, transmitiu toda a energia e força da comunidade LGBT, do calor do Nordeste e do amor que a dança nos faz redescobrir”.
Paulo Henrique Oliveira, bailarino e produtor cultural, foi quem indicou o espetáculo para integrar a Semana pra Dança. “Acho muito importante ver os diversos modos de pensar a dança e o posicionamento político deles, de trazer à cena essas questões que envolvem a cultura LGBT. A Semana pra Dança está sendo um evento bem diverso, trazendo vários estilos e modos de pensar a dança, então é fundamental termos esse espaço para discutir temas importantes.”
David Gonçalves dos Santos, ator, afirmou que se sentiu representado. “Achei lindo demais. Como um menino gay, me senti totalmente representado na cena que eles fizeram, foi espetacular. Esse é o nosso meio, o meio em que nos sentimos confortáveis, então trazer isso para o público e fazer outros meninos gays se sentirem à vontade junto aos bailarinos é incrível”.
A Semana pra Dança foi realizada pelo Colegiado Estadual de Dança de MS e Associação Arado Cultural, com investimento da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), Setesc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura) e Governo do Estado de Mato Grosso do Sul.