Único atleta de Mato Grosso do Sul inscrito na competição, João encara o desafio como uma experiência que vai além do esporte e carrega consigo a responsabilidade de representar o estado em um circuito reconhecido mundialmente.
A Fodaxman integra o calendário internacional de provas extremas da modalidade e exige dos atletas preparo físico, equilíbrio emocional e resiliência. São 4 km de natação, 176 km de ciclismo e 39 km de corrida, em um percurso ponto a ponto que começa na Barragem do Rio São Bento, em Siderópolis, e termina em Urubici, no alto da Serra Catarinense.
Inspiração que veio da Patagônia
A decisão de se inscrever na Fodaxman vem logo após João conquistar uma experiência singular no último Patagonman, outro triathlon extremo que, segundo ele, despertou uma nova visão sobre o esporte. “Depois que eu terminei a Patagônia, ela me inspirou a fazer mais desafios no triathlon, a viver mais experiências do triathlon extremo em outros lugares. Foi uma experiência de vida fantástica”, afirma.
Motivado por essa vivência, ele não perdeu tempo: já em janeiro iniciou sua preparação intensa. “Terminei o Patagonman e já engrenei no ritmo. Desde janeiro eu não parei, foquei nessa prova”.
Começo no escuro, término no frio
A Fodaxman combina trechos que desafiam qualquer atleta. A natação, de 4 km, começa às 3h40 da manhã em águas da barragem, ainda no escuro, o que torna o início ainda mais exigente. “A gente nada em volta da torre da capela, que está submersa. Só de imaginar nadando num lugar desse já arrepia”, conta João, em referência à antiga capela de São Bento, imersa nas águas da barragem.


Depois vem o ciclismo: 176 km de pedal, com aproximadamente 3.850 metros de altimetria acumulada, passando pela lendária Serra do Rio do Rastro. A estrada é famosa pelas curvas sinuosas e subidas intensas. Para fechar, a corrida de 39 km que termina no topo do Morro da Igreja, a 1.818 metros de altitude. “Você sai de uma barragem onde tem uma capela inundada e termina no Morro da Igreja. É igreja do começo ao fim. Parece que o esporte vira um detalhe perto da experiência”, resume o atleta.
Preparação, renúncias e disciplina
João destaca que participar de uma prova desse porte exige mais do que vontade. Segundo ele, é necessária dedicação intensa e uma rotina de treinos rigorosa. “Não é fácil. Tem que abrir mão de muita coisa. Mas não é dedicar meses pra um dia só. Toda a jornada é construtiva. Durante a jornada eu desenvolvo autoconhecimento, autodisciplina e autodomínio”, explica. Para o servidor, o verdadeiro valor está no processo, não apenas no dia da prova.
Ele confessa que muitas vezes o esporte parece se tornar “detalhe”. ” As horas de treino e sacrifícios cotidianos, na visão dele, formam muito mais do que um atleta: um cidadão comprometido com seus objetivos. “O que vale é o meu propósito e a minha jornada”.
Esporte como herança familiar
A relação de João com o esporte vem desde a infância. Filho de um profissional de Educação Física, ele cresceu cercado pelo esporte e pela disciplina. Hoje, prova esse legado com orgulho. “Meu pai é professor de Educação Física, então a atividade física sempre fez parte da minha educação. Hoje, eu vivo isso e levo para dentro da minha casa, com meus filhos”, explica.
Mais que isso: ele entende o triathlon como ferramenta de educação e exemplo para os filhos, algo que, acredita, fará sentido no futuro, quando eles entenderem o tamanho do desafio.
Além da vivência desde a infância, João construiu ao longo dos anos um currículo expressivo no universo das provas de longa distância. Em seu percurso esportivo, já concluiu o Ironman Brasil, o Ironman 70.3, participou de quatro maratonas, uma ultramaratona de 75 km e duas ultramaratonas de 100 km.
Treinos no Parque dos Poderes
Grande parte da preparação de João Morisson para a Fodaxman acontece em Campo Grande, no Parque dos Poderes, espaço que se consolidou como referência para a prática esportiva na capital. É no local que o servidor realiza boa parte dos treinos de corrida e ciclismo, aproveitando a infraestrutura disponível, que inclui vias asfaltadas em excelente estado, pistas adequadas para treinamento, academias ao ar livre e um ambiente seguro para atletas amadores e de alto rendimento.
O secretário de Estado de Turismo, Esporte e Cultura, Marcelo Miranda, destaca que o Parque dos Poderes tem papel fundamental na promoção da atividade física e no surgimento de histórias como a de João. “Quando vou fazer atividade física no Parque dos Poderes, muitas vezes encontro o João treinando. Isso mostra como o espaço é vivo e cumpre sua função de estimular hábitos saudáveis e também preparar atletas para grandes desafios”, afirma.


O secretário lembra que o complexo passou por um amplo processo de revitalização realizado pelo Governo do Estado, ampliando as condições de uso para a população e para atletas que utilizam o espaço como local de treinamento. “Hoje, o Parque dos Poderes oferece uma estrutura completa, com asfalto de qualidade, pistas bem conservadas, academias ao ar livre e um ambiente que favorece tanto quem está começando quanto atletas de alto rendimento. É um investimento que se reflete diretamente na qualidade de vida da população e no fortalecimento do esporte sul-mato-grossense”, completa Marcelo Miranda.
Além do desafio pessoal, João encara a prova com um sentimento de responsabilidade e orgulho de representar Mato Grosso do Sul. Ele chegou a customizar o capacete com as cores do estado para chamar atenção. “No Patagonman eu era o único atleta de Mato Grosso do Sul e agora na Fodaxman também sou. Quero mostrar que aqui no estado também existe triathlon de alto nível, gente disciplinada, gente que treina e vive o esporte”, afirma. Para ele, levar essa bandeira significa visibilidade para a modalidade e incentivo para que outros atletas do Estado se sintam motivados a entrar nesse universo.
Participar de uma prova como a Fodaxman exige estrutura, logística e apoio constante. Por isso, João contará com uma equipe de suporte composta por familiares: o pai, profissional de Educação Física, e o irmão, também policial militar. Eles acompanharão todo o percurso, providenciando alimentação, hidratação e apoio necessário. “A prova exige apoio. Não dá pra fazer sozinho. Ter minha família comigo faz toda a diferença”.
Com variação térmica que pode oscilar entre 5 °C e 35 °C, altimetria elevada e longas horas de prova, a Fodaxman é classificada como um dos desafios mais duros do país. Para João, porém, o que está em jogo vai muito além de ritmo ou performance. É sobre viver uma experiência transformadora.
“Você vai para sofrer, mas é um sofrimento bom. A paisagem, o ambiente, tudo isso dá força. O esporte, às vezes, parece só um detalhe. O que vale é a experiência”, confessa o servidor público.





