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Alerta duplo: corte na nota dos EUA e tarifaço elevam tensão nos mercados

Medo de descontrole fiscal nos EUA e aumento de tributos no Brasil impulsionam valorização do dólar e elevam a cautela de investidores.






O que aconteceu

Moody’s cortou classificação de crédito dos EUA. O rebaixamento, de “Aaa” para “Aa1”, tira a economia norte-americana do maior nível de segurança para investimentos. A perspectiva da nota foi alterada de “negativa” para “estável”.

Movimento reflete preocupação com gastos públicos. A Moody’s atribui o corte da nota de crédito às falhas da economia norte-americana para “reverter a tendência de grandes déficits fiscais anuais e de custos crescentes com juros”.

O desempenho fiscal dos Estados Unidos tende a se deteriorar tanto em relação à sua própria trajetória histórica quanto em comparação com outros países.
Rebaixamento acompanha outras agências de risco. A decisão de cortar a classificação soberana dos Estados Unidos já havia sido adotada pela Fitch, em agosto de 2023, e pela Standard & Poor’s, em 2011.

Golpe contra o dólar
Corte da nota de crédito é um novo peso contra o dólar. A decisão da Moody’s tem potencial para enfraquecer a moeda norte-americana, assim como aconteceu nos últimos meses em meio às decisões do presidente dos EUA, Donald Trump. “O rebaixamento da nota não deveria trazer tantos efeitos, mas sintetiza a preocupação muito maior dos investidores”, diz André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online.

“Tarifaço” de Trump foi o primeiro revés à moeda dos EUA. A promessa de campanha do presidente norte-americano derrubou a cotação do dólar. Desde o início do ano, o índice DXY, que calcula a variação da divisa com outras seis moedas de economias avançadas, acumula desvalorização de 7,55%. Toda essa pressão tarifária do Trump acabou tirando investimentos dos Estados Unidos.

Endividamento dos Estados Unidos é ponto de preocupação.

As políticas adotadas por Trump abrem caminho para o estouro do teto da dívida norte-americana, atualmente um pouco acima de US$ 36 trilhões. “A dívida dos EUA é impagável, mais de 100% de um PIB trilionário”, avalia Galhardo.

Dólar perde espaço como moeda de confiança dos mercados. Galhardo diz que as políticas de Trump trazem um cenário inédito. “Quando existia um nível de desequilíbrio em outras crises, os investidores migravam para a moeda americana”, afirma ele.

Como a guerra tarifária tinha muito mais impacto na economia americana, boa parte desses especuladores migraram para outras moedas, como o euro e a libra, mesmo com a economia europeia combalida.

E o real?
Dólar mais fraco não garante valorização da moeda brasileira. O enfraquecimento do dólar não representa uma queda automática do valor da divisa frente ao real.
Preço das commodities, fiscal e gripe aviária têm papel decisivo. Galhardo aponta que a moeda nacional está exposta aos valores do petróleo e do minério de ferro, matérias-primas com cotação internacional. As movimentações a respeito do controle das contas públicas também são determinantes.

A desvalorização do dólar não representa valorização do real.
Moeda dos EUA perde fôlego em relação ao real desde janeiro. Após fechar o ano passado cotada a R$ 6,18, a moeda norte-americana acumulava queda de 8,3% ante o real até a sexta-feira da semana passada (R$ 5,668).

Taxa de juros pesa a favor de novas quedas do dólar. A elevação da Selic para 14,75% ao ano, o maior patamar desde 2006, atrai os olhares e pode ocasionar uma maior desvalorização do dólar. “O Brasil tem uma das taxas de juros mais altas do mundo, atraindo investidores para cá”, observa Galhardo.

Com informações do UOL Economia