Os resultados das urnas não negam: o juiz federal aposentado Odilon de Oliveira (PP) e o ex-senador Delcídio do Amaral (PRD) fazem parte do time de políticos que perderam o bonde da história, tropeçando nos erros do passado e dialogando com a presunção. Impedidos pelos eleitores de chegar à Câmara de Vereadores e à Prefeitura de Corumbá, devem estar entrando no crepúsculo de suas trajetórias políticas.
Em suas três décadas de magistratura Odilon conheceu a glória, com julgamentos e sentenças implacáveis alvejando alguns dos maiores líderes do crime organizado. Tornou-se um pop-star, alçado à condição de herói e celebridade internacional. Chegou a ser tema de filmes e um caprichado documentário da HBO. Aposentou-se já picado pela mosca azul da política e insuflado a disputar cargos eletivos.
Na primeira experiência com as urnas, em 2018, chegou ao segundo turno contra Reinaldo Azambuja (PSDB). Alcançou 31,62% dos votos e por 13 pontos a menos perdeu a disputa contra o tucano. Nesta campanha, Odilon era do PDT, mas traiu o partido, que era da aliança nacional de apoio a Lula, e apoiou Jair Bolsonaro.
Em 2020, começou a derrocada do juiz Odilon. Ele não garantiu a reeleição do filho, Odilon Filho, vereador mais votado em 2016. Daí em diante, despencou: foi o quarto e ficou de fora na corrida ao Senado em 2022. E agora, em 2024, com apenas 2.435 votos, ficou distante da vaga de vereador que estava buscando, certamente para retomar seu espaço.
DECEPÇÃO EM CASA
Delcídio do Amaral foi um dos políticos mais poderosos na era Lula-Dilma, gozando no PT os seus dias de astro-rei. Assediado pela imprensa, eleitores e fãs, abriu largos caminhos para chegar ao Senado em duas eleições, assumindo a liderança do Governo de Dilma Roussef e a condição de candidato natural e cotadíssimo para triunfar na sucessão estadual em Mato Grosso do Sul.
O deslumbramento, porém, durou menos do que se esperava. Quando surfava nas ondas do sucesso político Delcídio foi apanhado pela vassoura da Operação Lava Jato, sob a acusação de tentar obstruir investigações da Polícia Federal. Além do inquérito judicial, foi submetido a julgamento no Senado e seus colegas o condenaram por unanimidade à perda do mandato, em 2015.
Três anos depois foi absolvido pela Justiça Federal e retomou os seus direitos políticos, sem anular a sentença de cassação do mandato. Iniciou então a série de tentativas para voltar ao terreno dos mandatos. E fracassou em todas. Foi o sétimo na disputa de senador em 2018. Em 2022, com seus 18.862 votos, ficou na 21ª posição, bem longe das oito vagas da Câmara dos Deputados. E agora, em Corumbá, sua terra natal, novo fracasso, talvez o derradeiro: candidato a prefeito, saiu das urnas como lanterninha entre os quatro concorrentes. As urnas, como se vê, são implacáveis.
Folha CG