Economia

Ibovespa dispara e dólar despenca para R$ 5,16 após vitória de Lula

Com giro reforçado a R$ 47,2 bilhões nesta última sessão do mês, o Ibovespa encerrou outubro acumulando ganho de 5,45% no período



(Agência Brasil)




Com giro reforçado a R$ 47,2 bilhões nesta última sessão do mês, o  encerrou outubro acumulando ganho de 5,45% no período, estendendo série positiva que retrocede a julho. Hoje, o índice manteve ampla faixa de flutuação da mínima (112.113,34) à máxima (116.763,47) do dia, e conseguiu ir além da linha dos 114 mil pontos, das duas sessões anteriores, ao fechar em alta de 1,31%, aos 116.037,08 pontos, saindo de abertura aos 114 533,14. No ano, o Ibovespa sobe agora 10,70%.

Nesta segunda-feira, a forte queda de Petrobras (ON -7,04%, PN -8,47%) e de Banco do Brasil (ON -4,64%), com o prosseguimento da reversão do 'kit estatais' após a vitória do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na noite de ontem, não foi o suficiente para lançar o Ibovespa em correção nesta última sessão do mês, ao contrário do que antecipavam analistas de mercado no fim do domingo.

Ainda assim, em linha com o que se esperava, Petrobras e BB seguraram a ponta negativa do Ibovespa nesta sessão pós-eleitoral, mas acumularam no mês um desempenho bem discreto: Petrobras ON e PN ainda avançaram 0,54% e 0,03%, respectivamente, e BB ON cedeu 3,89%. As três ações ainda mantêm desempenho amplamente positivo no ano, com ganhos, pela ordem, de 56,44%, 56,07% e 37,77%.

 
 

Na transição para o novo governo, a falta de ruídos iniciais mais intensos contribui para tranquilizar os investidores, com rápida proclamação do resultado, reconhecimento externo de países como Estados Unidos e China, e mesmo o silêncio do presidente Jair Bolsonaro, derrotado nas urnas que havia contestado em boa parte do processo eleitoral.

A pronta admissão pública da derrota entre aliados próximos, como Arthur Lira (presidente da Câmara), ainda na noite de domingo, contribui para reduzir ao mínimo o risco de contestação, que poderia estender a eleição a um "terceiro turno" após ter sido decidida por estreita margem de 2,1 milhões de votos.

Dólar despenca

O dólar despencou ao longo da tarde desta segunda-feira, 31, e encerrou o dia na casa de R$ 5,16, com relatos de desmonte de posições cambiais defensivas por investidores locais e entrada de fluxo estrangeiro. Segundo analistas, o mercado incorpora à taxa de câmbio a redução do risco político-institucional, em razão da falta de espaço para contestação do resultado da eleição pelo presidente Jair Bolsonaro, e a perspectiva de que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, mostre que vai adotar uma política econômica moderada com a montagem equipe de transição.

 
 

Esse movimento de apreciação do real não veio, contudo, sem sobressaltos. Na abertura dos negócios, como previsto, o dólar esboçou uma alta mais forte e chegou a tocar o patamar de R$ 5,40. A valorização da moeda americana no exterior em relação a pares fortes e divisas emergentes, na esteira da leitura ruim de inflação na Europa e indicadores de atividade abaixo do esperado na China, contribuía para pressionar a taxa de câmbio.

O dólar perdeu força no mercado doméstico ainda pela manhã, à medida que surgiam sinais vindos do QG de Lula, em especial a possível indicação do vice-presidente eleito,  (PSB), para comandar a equipe de transição de governo. Operadores notavam também influência de fatores técnicos com a disputa pela formação da última taxa Ptax de outubro e rolagem de posições no mercado futuro.

Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, além das dúvidas sobre o rumo da política econômica em um governo Lula, os preços dos ativos locais refletiam o risco institucional, dada a possibilidade de que Bolsonaro contestasse o resultado eleitoral. A movimentação política interna e o reconhecimento da vitória de líderes internacionais diminuíram o espaço para contestação.

 
 

"Apesar de ainda termos de esperar pelo o que o Bolsonaro vai dizer, existe uma diminuição desse risco institucional. A reação natural do mercado é promover essa correção que estamos vendo no câmbio", afirma Velho, ressaltando que o dólar operou descolado do comportamento global da moeda americana na semana passada. "Agora, está mais alinhado a níveis convergentes com a sinalização do Federal Reserve de que pode desacelerar o ritmo de alta de juros a partir de dezembro".

Segundo o economista, embora deva haver mudanças na política econômica, dada a fé de economistas alinhados do PT no papel da expansão dos gastos públicos para o crescimento econômico, não se espera uma guinada radical rumo à heterodoxia. "A sensação é de que não vai ter nenhuma maluquice. Existe memória do primeiro governo Lula, com bons nomes de equipe econômica, e possibilidade de nova âncora fiscal para substituir o teto de gastos", afirma.