Nesta semana, vários vídeos de briga envolvendo estudantes foram registrados em Campo Grande, há quase um mês do retorno das aulas presenciais. Os episódios acendem o alerta para a violência no ambiente escolar, levando em consideração os dois anos de aulas a distância. As características dos conflitos levam a crer que o comportamento dos jovens foi afetado pelo confinamento de quarentena.
Especialista no assunto, Glaucia Benini, terapeuta, psicopedagoga e mestranda em neurociência, ressalta que, com a pandemia, a sociabilidade de todas as pessoas foi afetada, principalmente dos jovens. O ambiente escolar é um dos principais locais onde a geração tem a troca de interação interpessoal, tem a convivência com outros da mesma idade. Esse processo é extremamente importante para maturação e manutenção da saúde emocional.
“A escola também é para troca de relacionamentos, de interação psíquica, de recompensas emocionais. Quando se pensa nisso, a pandemia prejudica muito a saúde mental. Do ponto de vista que esse jovem começa a ter relações online muda tudo, é diferente. Quando algo não está agradando, ele tem a opção de deixar o celular, desligar o computador e sair do assunto, desconectar. No presencial não, essa troca é muito mais intensa. Nesse período, o jovem pode ter ‘destreinado’ a ter relações interpessoais. Isolamento favorece a ansiedade, agressividade, sem contar que vários podem ter ficado em chats de agressividade, jogos violentos”.
Outro ponto que favorece o comportamento agressivo é o da estrutura familiar, ou seja, o aluno pode ter a característica realçada pelo que recebe. Por exemplo, se está em um ambiente onde presencia violência doméstica, física, as atitudes são refletidas, pois a casa deveria ser um lugar acolhedor.
“Quando voltam [para o presencial] acabam trazendo muitas questões que devem ser investigadas de perto. Cabe também ao ambiente escolar um plano de convivência para reverter cenários violentos, os professores, começaram a ter capacitação para mediação de conflitos, voltada para o diálogo, estratégias psicopedagógicas. Selecionar alguns alunos dentro da turma, para ter essa visão, servir como orientador, levar ao professor colegas que estejam passando por conflitos emocionais”.
Em uma unidade estadual do bairro São Conrado, uma mãe, que preferiu não ser identificada, conta que a filha foi ameaçada. “Vou trocar ela de escola. Na última segunda-feira (4), teve outra briga, dessa vez por fofoca”.
Nesta mesma escola, houve outros registros de desentendimento entre alunos, de todos os gêneros. A mãe ainda esclarece que as brigas acontecem por simples motivos, desde ciúmes a um esbarrão.
Como identificar o comportamento?
A profissional alerta que em alguns casos é possível identificar um problema com o jovem. Alguns dão sinais quando mudam o jeito de agir, começam dar respostas grosseiras e têm reações agressivas quando ouvem um ‘não’. “São alertas essenciais para a procura por um profissional”, afirma.
Para coibir situações que envolvam agressões por parte dos estudantes, em especial no ambiente escolar, a SED (Secretaria de Estado de Educação), por intermédio da Coped (Coordenadoria de Psicologia Educacional), trabalha com uma série de ações, realizadas em parceria com as unidades escolares da REE (Rede Estadual de Ensino), com o objetivo de desenvolver um trabalho coletivo e integrado promovendo e priorizando a aprendizagem e o desenvolvimento das potencialidades dos estudantes, orientando alunos e profissionais da REE e oferecendo suporte a fim de complementar o trabalho realizado pela equipe educacional.
Entre as ações, está a disponibilização de cartilhas voltadas para orientação dos gestores e equipes escolares sobre bullying, apoio aos gestores escolares na identificação de situações de vulnerabilidade, promoção de espaços para diálogo entre estudantes e profissionais das escolas da REE, entre outras.
O material da cartilha pode ser conferido no site: www.sed.ms.gov.br/psicologiaeducacional/