Responsável pelo escoamento de grande parte da produção agrícola de Mato Grosso do Sul, o transporte rodoviário teve alta de 15% no ano passado e pode subir ainda mais no Estado neste ano. As supersafras de soja e de milho no ano passado e a paralisação do transporte pela hidrovia fizeram com que os preços aumentassem durante 2023.
Levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta que transportar grãos de São Gabriel do Oeste (MS) a Maringá (PR) ficou 15% mais caro na comparação entre janeiro e novembro de 2023, pois o custo por tonelada era de R$ 160,00 e passou para R$ 184,00 no penúltimo mês do ano.
Já de São Gabriel do Oeste a Santos (SP), o acréscimo foi de 14,01%, saindo de R$ 297,33, em janeiro para R$ 339,00 em novembro. De Dourados ao Porto de Paranaguá, no Paraná, o preço saiu de R$ 229,83 para
R$ 212,00, o que representou recuo de 7,76%.
Enquanto o custo por tonelada transportada da segunda maior cidade sul-mato-grossense a Rio Grande (RS) custava R$ 292,50 em janeiro, em novembro foi a R$ 315,00, aumento de 7,68%.
Com variação ainda maior, uma elevação pôde ser notada pelo produtor da região de Maracaju, onde o preço do frete com destino ao porto de Porto Murtinho aumentou 15,55%, indo de R$ 90,00 para R$ 104,00. Já de Maracaju a Maringá, o custo por tonelada transportada custava R$ 124,00 e foi a R$ 127,00 (2,42%).
O mestre em economia Lucas Mikael detalha como funciona o reajuste do frete rodoviário, ressaltando que vários fatores são considerados e que contratos e negociações entre transportadoras e clientes muitas vezes estabelecem termos específicos.
“Incluem índices de reajuste atrelados à inflação, variação do preço do diesel ou outros indicadores econômicos. Além disso, índices de custos operacionais, como combustível, manutenção e salários, podem ser considerados”, explica.
A variação do preço do diesel é frequentemente um componente importante nos ajustes, com contratos podendo incluir cláusulas automáticas de ajuste.
O diretor do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Estado de Mato Grosso do Sul (Setlog-MS), Dorival de Oliveira, cita também o retorno da cobrança integral dos tributos federais Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição da Seguridade Social (Cofins) no preço do diesel. “É um fator que elevou o combustível e, por consequência, refletiu no custo do frete”, conclui.
Além disso, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) atualizou a tabela dos valores dos pisos mínimos do frete do transporte rodoviário de cargas mais de cinco vezes em 2023.
PARA 2024
Com valores já reajustados pela ANTT, o aumento médio na tabela varia de 1,03% a 5,66% no País. Publicada em 19 de janeiro, a Resolução nº 6.034/2024 atualiza os valores da Política Nacional de Pisos Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas (PNPM-TRC), a nova tabela de preços para os pisos mínimos de frete.
Representante das transportadoras em MS, Dorival de Oliveira faz um paralelo entre a produção de grãos e a demanda pelo transporte no Estado, destacando que a taxa dependerá do porcentual que o agricultor se comprometerá a vender ou se vai armazenar para aguardar um preço melhor. “Ou seja, a questão será a demanda”, afirma.
A projeção para este ano, no âmbito nacional, é de que o preço do frete deve continuar em elevação, com pouca redução em relação a 2023, porém ficando abaixo dos preços recordes registrados em 2022.
Conforme analistas do mercado, o atraso do plantio e da colheita da soja deve gerar uma “disputa” entre estados na hora de contratar transporte para o escoamento das safras, o que deve elevar os preços, mesmo que se confirme a quebra da safra brasileira.
Para exemplificar, Oliveira faz uma análise trazendo a situação em outras regiões do Brasil, onde não houve problemas climáticos que impactassem a produtividade de grãos e que automaticamente tiveram aumento na demanda, fazendo com que os caminhões se deslocassem para esses locais, desfalcando a regão sul-mato-grossense.
“Aqui vai faltar carga para puxar por conta da projeção de queda da safra. O que faz com que os caminhões se desloquem [para outros estados], e, consequentemente, o valor do frete deve voltar a subir”.
REFLEXO
O economista Eduardo Matos destaca que o frete atinge muitas das etapas da elaboração de um produto, desde a sua fabricação, no transporte de matérias-primas, até quando vai à mesa do consumidor, no caso dos alimentos.
Matos salienta que o trajeto influencia diretamente a cesta de consumo dos brasileiros e, portanto, se há um aumento no frete, haverá também um aumento no preço de itens transportados por caminhões, o que, por fim, impacta a inflação.
“A elevação do frete para o sul-mato-grossense acaba tendo um agravante por questões como a distância do centro produtivo brasileiro e também pelo fato de os principais itens de consumo do Estado não serem produzidos aqui”, aponta.
O economista Lucas Mikael acrescenta que o impacto gerado pelo aumento do frete se estende a todos os consumidores, de maneira abrangente. “Isso ocorre porque o custo adicional precisa ser transferido, resultando em ajustes nos valores de alimentos, combustíveis, vestuário, medicamentos e outros itens essenciais para a sociedade”, finaliza.