Mato Grosso do Sul

Custo do frete aumenta 43,5% no Estado e pressiona toda a cadeia produtiva

Alta no preço do diesel e colheita da soja ajudaram a elevar as despesas com o transporte rodoviário no primeiro trimestre






O preço do frete aumentou até 43,5% em algumas praças de Mato Grosso do Sul em 2022. Os custos com o transporte influenciam toda a cadeia produtiva. 

Os insumos, que já estão em alta, ficam ainda mais caros com o custo para chegarem até a propriedade, elevando o valor da produção, e no caminho inverso, da fazenda às gôndolas, pressiona o preço dos itens ao consumidor final.  

Levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta que transportar grãos de Dourados ao porto de Paranaguá, no Paraná, ficou 43,5% mais caro em dois meses.  

O custo por tonelada média transportada saltou de R$ 148,75 em janeiro para R$ 213,50 até o fim de março.  

A mesma alta pôde ser notada pelo produtor da região de Maracaju, que precisou escoar a produção neste começo de ano. O custo médio do frete saiu de R$ 168,17 para R$ 237,50 por tonelada no mesmo período, alta de 41,22%.  

A região que teve menor impacto no período foi a de Chapadão do Sul, a alta por lá ficou em 16,51%, mais equiparada à alta dos combustíveis. 

Para fazer o transporte até o mesmo porto, em janeiro, o produtor pagou R$ 189,67 por tonelada, e em março o preço médio era de R$ 221,00.  

COMBUSTÍVEIS

Nos últimos dois meses, o preço do óleo diesel sofreu alta de R$ 0,98 por litro. De acordo com os dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em um ano, o preço médio do litro do diesel apresentou variação de 56,14%, passando de R$ 4,15 no ano passado para R$ 6,48 no mês vigente.

Segundo as entidades ligadas ao setor de transporte, com a alta nas refinarias e nos postos de combustíveis, as empresas de transporte rodoviário embutiram repasse de 10% no valor cobrado pelo frete.  

O CEO da Patrus Transportes, Marcelo Patrus, diz que os reajustes constantes criam instabilidade na área comercial das empresas.  

“Torna-se cada vez mais insustentável manter contratos com tamanha incerteza, sobretudo agora, com reajuste de 25% no óleo diesel [anunciado no mês passado pela Petrobras]', declarou em nota a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC & Logística).  

O economista Marcio Coutinho explica que existe um efeito cascata sempre que há aumento no preço do combustível.  

“Temos que pensar o seguinte: o principal meio de transporte no Brasil é o rodoviário, em função disso, caminhões utilizam diesel, esse aumento encarece o frete e os produtos na ponta final sofrem e também podem aumentar de preço', explica.  

Ele avalia que as altas chegam não só aos alimentos, mas aos produtos de consumo como um todo. “Não só os alimentos sobem. Como fazemos quase todo o transporte de mercadorias pelas rodovias, é possível ver aumento em quase todos os produtos', detalha Coutinho.  

Segundo a NTC & Logística, mais de 65% do trasporte de tudo o que é consumido no Brasil é feito por meio de caminhões e rodovias.

Produto do refino de petróleo bruto, o barril de petróleo brent, mais comercializado no mercado internacional, já sofreu alta de 32,42% somente em 2022. De 1º de janeiro até ontem (27), o barril saiu de US$ 78,80 para US$ 104,95 no fechamento do mercado.  

INVASÃO RUSSA

Com a invasão da Rússia à Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro, além do petróleo, produtos como trigo, soja, milho e fertilizantes utilizados nas culturas dos cereais e das oleaginosas mais importantes produzidos no Estado sofreram fortes altas.  

As cadeias de produção nos mercados globalizados causam efeitos em diversos subprodutos, e altas de preços das matérias-primas e dos componentes ligados ao transporte delas influenciam em várias etapas à frente.  

Doutor em Economia e professor na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems), Mateus Abrita diz que esses efeitos reduzem o poder de compra do consumidor.  

“Estamos sentido a alta dos combustíveis chegando ao consumidor de forma direta, no caso da gasolina e do diesel, e de forma indireta, porque impacta o custo de produção, frete e transportes. Infelizmente, como impacta bens essenciais, acaba por prejudicar ainda mais o poder de compra da população, que já está sofrendo'.  

O Índice de Preços ao consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado no começo deste mês, mostra alta de 2,58% no grupo de alimentos e de 2,78% nos transportes, puxada principalmente pelos combustíveis.  

Juntos, os dois grupos são os que mais pressionaram a inflação em Campo Grande, a quarta maior do País no último mês, com alta de 1,74%.  

Coutinho diz que, além do transporte de mercadorias, o preço de sementes e fertilizantes compõe o preço da produção, mas o principal fator segue sendo o transporte.  

“Para comercializar, você precisa transportar. Campo Grande não tem produção suficiente para o mercado interno no caso de hortifrutigranjeiros, então é preciso que haja transporte, e o gasto de óleo diesel encarece o frete e, consequentemente, o produto final', conclui.